Nesta sexta-feira (30), a Polícia Civil de Santa Catarina, por meio da Delegacia de Combate à Corrupção e da Delegacia de Investigação à Lavagem de Dinheiro, com apoio Laboratório Lavagem de Dinheiro e da Coordenadoria Estadual de Combate à Corrupção, deflagrou as operações “Irmãos em Armas” e “Gênesis”, nas cidades de Florianópolis, São José, Palhoça, em Santa Catarina, e em Canoas, no Rio Grande do Sul. No total, foram expedidos pelo Poder Judiciário nove mandados de busca e apreensão.
Primeiro inquérito policial
O primeiro Inquérito Policial foi instaurado pela Diretoria Estadual de Investigações Criminais (DEIC) a fim de apurar irregularidades e ilicitudes ocorridas nas contratações diretas realizadas pela Secretaria de Estado da Administração e pelo Porto de São Francisco do Sul durante o governo passado.
Trata-se da contratação de um software de uma empresa de Florianópolis, cujo sistema foi construído com base na Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão Construtivista – MCDA-C, escolhida pelo Governo de Santa Catarina para gerir os indicadores de desempenho.
A investigação apontou que os agentes políticos da SEA e os servidores do alto escalão do Porto envolvidos na contratação, bem como o representante da empresa fornecedora do software, possuíam vínculos com a Polícia Militar de Santa Catarina e foram os responsáveis pela utilização e implementação da metodologia MCDA-C no âmbito da instituição.
A metodologia começou a ser colocada em prática na Polícia Militar de Santa Catarina a partir 2013, fruto de estudos acadêmicos realizados pelos investigados na Universidade Federal de Santa Catarina, utilizando-se, para a gestão dos indicadores de desempenho, de software com valor infinitamente mais barato, o qual é disponibilizado pela Secretaria de Segurança Pública aos órgãos policiais.
A contratação da empresa ocorreu por dispensa de licitação após a juntada de algumas solicitações de orçamentos, destinadas a empresas estabelecidas em Santa Catarina e em outros estados, sendo que de todas as solicitações encaminhadas, apenas a empresa contratada respondeu.
Assim, com base nas negativas dos orçamentos solicitados, foi realizada a compra direta com fundamento no fato de ser a única ferramenta adaptada e disponível no mercado para o uso da metodologia MCDA-C. Já a contratação no Porto de São Francisco do Sul apenas replicou o processo de inexigibilidade conduzido pela Secretaria de Estado de Administração. Além disso, constatou-se que o termo de referência anexado ao SGPe, para a abertura do processo de contratação do software pelo Porto, foi confeccionado pelo proprietário da empresa.
Por fim, há vários indícios de que o programa sequer chegou a ser utilizado no Porto de São Francisco do Sul. O prejuízo estimado com a contratação da empresa é de aproximadamente R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais).
Segundo inquérito policial
O segundo Inquérito Policial tramitando na DEIC decorre do compartilhamento de provas realizado pela Polícia Civil de Rondônia com base na investigação que culminou com a Operação Mobilis. A apuração teve início a partir de uma denúncia anônima dando conta de supostas irregularidades no certame licitatório que resultou na aquisição de software, tablets e demais acessórios para a implementação do “SISTEMA MOBILE”, cujo objetivo é possibilitar o registro de ocorrência policial e a lavratura do Termo Circunstanciado no local dos fatos.
Ao analisar os dados obtidos através das medidas cautelares, os policiais civis de Rondônia constataram fortuitamente que a empresa investigada também transacionou com outras unidades da federação.
Em Santa Catarina, a mesma empresa presta serviços à Polícia Militar desde 2011. Consequentemente, antecede – e muito, aos fatos ocorridos em 2018, os quais foram objeto da investigação de Rondônia. Isto é, a instrução do procedimento aponta que inauguralmente os crimes foram praticados no estado e em seguida a “expertise” delitiva foi exportada para outras instituições militares, razão pela qual a operação foi batizada de GÊNESIS.
Em síntese, a investigação apontou que as licitações para criar/manter o Sistema de Atendimento de Despacho de Emergência – SADE (PM MOBILE), da Polícia Militar de Santa Catarina, foram direcionadas com a inclusão de cláusulas restritivas, exigência de atestados de qualificação expedido pela própria Polícia Militar e prazos exíguos para desenvolver o produto, o que afastou a participação de outras empresas de tecnologia nos certames desde 2011.
Também, foi possível identificar a utilização de agentes públicos para promover a empresa fora de Santa Catarina, com a finalidade de vender o produto para outras instituições militares, como ocorrido no estado de Rondônia, bem como o recebimento de presentes pelos agentes públicos e a elaboração conjunta entre empresário e agentes públicos dos Termos de Referência.
A investigação foi cindida pelo Poder Judiciário pelo fato de os crimes terem sido praticados pelos militares na ativa, em desfavor da instituição e por estarem desenvolvendo posto de mando na PMSC. Ou seja, foram expedidas buscas e apreensões tanto pela justiça comum como pela justiça castrense, sendo de responsabilidade da Polícia Civil o cumprimento dos mandados nas residências/empresas dos civis investigados, enquanto que a Polícia Militar cumprirá as ordens expedidas em desfavor dos militares envolvidos.
Por fim, os dois Inquéritos Policiais instaurados pela DEIC apuram crimes de associação criminosa, corrupção ativa e passiva e fraude em licitação.
Os trabalhos contaram com apoio das Delegacia da DEIC, Polícia Científica, 1ª DECOR da Capital e da DECCOR/DEIC do Rio Grande do Sul.
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